segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Agradecimento especial

O Denis-ricard, do Atelier Parousia, nos enviou um presentinho que nos será muito útil: pigmentos. Então resolvi postar, aqui para agradecer e incentivar essa "fraternidade" entre os iconógrafos, pois não cabe a nós ter sentimentos de disputa ou inveja e, que tudo o que fazemos seja para maior honra e glória de Deus, como diriam os monges beneditinos.

Um grande abraço Denis e um FELIZ E SANTO NATAL!!!





A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

FIGURAS GEOMÉTRICAS

Numa composição de um esquema iconográfico também está presente as figuras geométricas e, cada uma, com um simbolismo específico. Neste ícone abaixo podemos notar a presença de, pelo menos, quatro: o círculo, o quadrado, o triângulo e o losango.


a) O círculo

O círculo possui uma simbologia específica e muito abrangente, sendo o segundo símbolo fundamental, no mesmo grupo a que pertencem o centro, a cruz e o quadrado. O círculo é uma estensão do centro. "O círculo pode simbolizar a divindade considerada não apenas em sua imutabilidade, mas também em sua bondade difundida como origem, substância e consumação de todas as coisas; a tradição cristã dirá: como o alfa e o ômega."

O círculo pode ser encontrado nos ícones da Ascensão de Cristo; Descida ao Hades; Filho Unigênito; Transfiguração; Nimbos ou Auréolas e outros.

b) O quadradro

Em contrapartida ao círculo, o quadrado é o símbolo da terra por oposição ao céu, mas é também, num outro nível, o símbolo do universo criado, terra e céu por oposição ao incriado e ao criador; é a antítese do transcendente.

O quadrado está representado neste ícone do Cristo na Glória acima.

c) O triângulo

Está intimamente ligado ao número três, à Trindade e, consequentemente, à Divindade. O triângulo equilátero, na tradição judaica, simboliza Deus, cujo nome não se pode pronunciar, enquanto que, representado com a ponta invertida (para baixo), simboliza a comunicação da divindade com a humanidade, o diálogo.

O triângulo pode ser percebida nas contruções iconográficas dos ícones da Trindade (de Rublev), da Transfiguração e dos ícones de meio busto.

d) O losango

Símbolo feminino por excelência e, por conseguinte, matriz da vida. Algumas formas apresentam "dois triângulos isósceles adjacentes na base, assim, significariam os contatos e os intercâmbios entre o céu e a terra, entre o mundo superior e o mundo inferior".

Também neste ícone do Cristo na Glória pode ser observado a figura do losângo perfeitamente.


A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

SIMBOLOGIA DAS MÃOS

Um ponto particular nos ícones são as mãos. O iconógrafo se detém no que dizer com as mãos do personagem representado, por isso separei alguns exemplos de mãos para postar aqui.

1. De Jesus Cristo

A mão direita de Cristo, em geral porta uma atitude de benção "à maneira grega", na qual os dedos aparecem em posições bem precisas com significados simbólicos. De fato, os três dedos que se agrupam, lembrando as três Pessoas Divinas (Pai, Filho e Espírito Santo), enquanto que os outros dois dedos proclamam as duas naturezas de Jesus: Divina e Humana.

. . .
Em sua Hermenêutica da Pintura, Dionísio de Furná assim descreve como devem estar posicionados os dedos da mão direita, que abençoa, e o sentido simbólico:

Quando fazes uma mão que abençoa, não una os três dedos juntos, mas une o polegar com o anelar apenas; o dedo chamado indicador e o médio formam o nome IC: com efeito, o idicador forma o I; o dedo médio curvado forma o C; o polegar e o anular que se unem obliquamente e o mínimo que está ao lado do anular, formam o nom e XC; de fato a obliquidade do mínimo, estando do lado do anular, forma a letra X; o mesmo mínimo, que tem curva indica justamente por isso o C; por meio dos dedos, portanto, se forma o nome XC e por esse motivo, pela divina providência do Criador de todas as coisas, os dedos da mão humana foram modelados assim e não foram demais ou de menos, mas em quantidade suficientes para formar este nome.

2. Da Teotókos, dos Santos e dos Anjos

As mãos dos demais personagens representados na iconografia possuem uma linguagem simbólica bastante acentuada. Os símbolos presentes nas mãos dos santos são sinais de suas missões, martírio ou status pelos quais são reconhecidos. Os anjos, por serem mensageiros de Deus entre os homens, trazem o símbolo de sua missão, mas também outros quando representam uma cena específica.

Como os exemplos abaixo:

A mão da Theotókos que segura no seu braço o Emanuel, geralmente encontrada nas imagens do tipo Eleúsa (Glykophilousa, Odighítria, Galaktotrophousa, dentre outras), simboliza - ao mesmo tempo - um pedido de súplica / intercessão e , ainda, indica o seu Filho. Esta última é vista, principalmente, na "Virgem que aponta o Caminho" (Odighítria).

Em outras tipologias da Mãe de Deus, como a Virgem do Sinal, a Orante e outras, vemos uma atitude de oração representada pela mão estendida com a palma voltada para o céu. Alguns santos também aparecem com essa mesma atitude em algumas cenas específicas, como nas representações na fileira da Deésis, quando encontrados em oração elevando seus rogos e súplicas.

O Apóstolo Pedro é representado com uma chave em uma das mãos, lembrando a imposição de Cristo, quando disse: Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o uq eligares na terra será ligado nos céus e o que desligares na terra será desligado nos céus (Mt 16, 19). Enquanto a outra, geralmente, leva consigo o livro, representando assim as duas epístolas canônicas escritos por ele.


Neste exemplo temos um turíbulo simbolizando que o personagem representado deverá ser um diácono. Numa outra situação, alguns anjos e santos podem receber em suas mão este instrumento que poderá ser associado às orações, conforme o Salmo 141, quando reza: Suba a vós minha oração, como incenso da tarde. Assim vemos na mão de S. Pedro, no ícone da "Dormição da Mãe de Deus" (Kóimesis), na mão do Anjo do Apocalipse e em outros.

Uma simbologia particular deve ser atribuída à cruz. Simbolo do martírio para alguns santos, por isso estes a levam em sua mão, prenúncio da morte na qual Jesus deveria morrer e que fora anunciado pelo Arcanjo Miguel, no ícone da "Virgem da Paixão" ou "Nossa Senhora do Perpétuo Socorro".



A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O LIVRO DO PANTOCRATOR


O livro que o Cristo
traz na mão é o dos Evangelhos e, em geral, é segurado na mão esquerda; enquanto que a direita abençoa. Em algumas representações do Pantocrator o livro está aberto, para que todos possam lê-lo. Por isso, é costume que o iconógrafo inscreva nele alguma passagem sugestiva dos Evangelhos, referente ao Cristo Senhor. Essas passagens contribuem para ilustrar o nome acrescentado e para especificar o sentido da representação quando falta o nome.

Há várias inscrições, mas abaixo enumeramos apenas algumas propostas por Dionísio de Furná em sua Hermenêutica da Pintura:

SEGUNDO SUA NOMENCLATURA
  • Para o Pantocrator: “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8, 12).
  • Para o Salvador do mundo: "Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração e encontrareis repouso para as vossas almas" (Mt 11, 29).
  • Para o Doador de vida (Zoodotes): "Eu sou o Pão vivo, que desceu do céu: se alguém comer deste pão, viverá" (Jo 6, 51).
  • Para o Mensageiro do Grande Decreto: "Saí de Deus e dele venho; não venho por mim mesmo, mas foi ele que me enviou" (Jo 8,42).
  • Para o Emanuel: "O Espírito do Senhor está sobre mim, por isso me ungiu: mandou-me levar a boa nova aos pobres" (Lc 4, 18).

SEGUNDO SUA REPRESENTAÇÃO

  • Quando o representas como Sacerdote: "Eu sou o bom Pastor: o bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas" (Jo 10, 11).
  • Quando o representas na Assembléia dos Incorpóreos: "Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago" (Lc 10, 18).
  • Quando o representas entre os Profetas: "Quem recebe um profeta em meu nome..." (Mt 10, 41)
  • Quando o representas entre os Apóstolos: "Eis que vos dou o poder de pisar serpentes" (Lc 10, 19).
  • Quando o representas entre os Bispos: "Vós sais a luz do mundo; não pode uma cidade..." (Mt 5, 14).
  • Quando o representas entre os Mártires: "Todo aquele que se declarar por mim diante dos homens, também eu me declararei..." (Mt 10, 32).
  • Quando o representas entre os Santos: "Vinde a mim vós todos que estais cansados sob o peso dos vossos fardos e eu vos darei descanso" (Mt 11, 28).
  • Quando o representas entre os Pobres: "Curai os enfermos, purificai os leprosos" (Mt 10,8).
  • Quando o representas sobre uma Porta: "Eu sou a porta: se alguém entrar por mim, será salvo" (Jo 10, 9).
  • Quando o representas num cemitério: "Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá" (Jo 11, 25).
  • Quando o representas como sumo Pontífice: "Senhor, Senhor, olha do céu e vê, visita esta vinha; protege o que a tua direita plantou" (Sl 80, 15-16).

    * Fonte: GHARIB, Georges, Os Ícones de Cristo: História e Culto. São Paulo: Paulus, 1997.

A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Apelo ao Papa para o retorno à uma arte sacra autenticamente católica

Relatamos a possibilidade de assinar o Apelo à Sua Santidade Bento XVI para o retorno a uma arte sacra autenticamente católica.

Quem quiser participar pode clicar na imagem ao lado.


A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

INSCRIÇÕES E O ALFABETO GREGO

Para identificar um determinado ícone não basta reconhecer sua tipologia. O nome e algumas inscrições não são partes facultativas em um ícone, mas obrigatório para que possam ser benzidas e utilizadas no culto litúrgico.

Normalmente, as inscrições são feitas em alfabeto cirílico nos ícones russos, porém conservam-se as abreviações gregas para indicar a Mãe de Deus, Jesus Cristo e às vezes os santos. Na auréola de Cristo, onde se desenha uma cruz, encontra-se um trigrama que indica o nome de Deus revelado a Moisés: "Aquele que é" (O WN), quando se encontrou diante da sarça ardente. As três letras são colocadas uma no braço esquerdo, o O no centro ao alto e a terceira no braço direito.

Para ver no tamanho real, clique sobre a imagem ...

Na maioria dos ícones que possuem livros ou rolos (ex.: Glykophilousa), muitas palavras estão em forma abreviada e isso dificulta a tradução e a escrita. A forma de se escrever as palavras nesses rolos ou livros também difere em muito da nossa forma, pois usam de junção de palavras (que não é a mesma coisa das abreviações), como é o caso dos ditongos e grupos de consoantes, numa só grafia e, em outras vezes, ainda unem palavras e frases inteiras, dificultando ainda mais.


A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

DOURAÇÃO (Vídeos em italiano)

Acho que, com esses vídeos explicativos, poderão nos ajudar ainda mais na nossa função de iconógrafos experientes ou iniciantes. O áudio está em italiano, mas dá pra entender bem.

1a. Fase: Preparação do Bol de Armênia


2a. Fase: Aplicação do Bol de Armênia sobre a tábua



3a. Fase: Aplicação da folha de ouro verdadeira


4a. Fase: Brunição com pedra d'ágata



5a. Fase: Aplicação da segunda folha e brunição final (opcional)


É interessante que, para o ouro brunido ter um aspecto de espelho, o levkas deve estar ausente de qualquer imperfeição ou irregularidade, pois tanto o bol quanto a folha de ouro só intensificaria ainda mais no resultado final.

No ouro brunido não convém aplicar Goma Laca para protege-lo contra a ação do tempo.

A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

PIGMENTOS PARA ÍCONES


Durante séculos os iconógrafos utilizaram as cores disponíveis em sua própria região e segundo cada escola iconográfica na qual pertenciam. Mesmo antes da arte bizantina os artistas paleocristãos pintavam seus afrescos (em catacumbas) nas quatro cores básicas: branco, ocre, vermelho e preto. Nas pinturas mais antigas quase não se encontrava o azul. Ele surge a partir da mistura de pigmentos brancos e negros. Somente em casos excepcionais o Lápis Lazúli (Lazurita) era utilizado ralado porque era muito caro e escasso.

Os registros mais antigos da utilização do azul (Lápis Lazúli) datam dos sécs. VI e VII, nas pinturas rupestres em templos Afeganistão, onde esse mineral foi predominantemente extraído.


A cor verde era conseguida, geralmente, através da adição do preto ao ocre e, mais tardiamente, com o ocre ao azul.

Em nossos dias uma gama extensa de pigmentos em pó, de várias cores e tonalidades, já pode ser encontrada em comércio especializado na forma natural e sintética de alta qualidade.

Os principais fabricantes são:

Maimeri (Itália), Sennelier (França), Sinopia (EUA), Kremer (Alemanha), Zecchi (Itália), Rublev (EUA).

Aos iniciantes que quiserem “brincar” com pigmentos em pó, podem adquirir o Pó Xadrez, da LanXess (EUA), que são bem conhecidos aqui no Brasil através da construção civil, mas não é nada indicado para Belas Artes e Iconografia.


A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Ícone de "Cristo Esposo"

Estou terminando de escrever o ícone de "Cristo Esposo" (gr.: ο Νυμφίος), também chamado de "Extrema Humilhação" (gr.: Aκρα Tαπείνωσις). Este último título é mais propício para quem vê o ícone, mas eu prefiro o primeiro.

O nome provém da parábola das dez virgens (cf. Mt 25, 1-13) que serve de contexto à meditação litúrgica dos três primeiros dias da semana santa.

Como preparação para escrever este ícone, busquei as fontes: a parábola e a oração (Tropário) que se reza no "Ofício do Esposo".

Então, resolvi compartilhar essa beleza da Igreja Ortodoxa e, em breve postarei o resultado final da minha oração.



Letra do Tropário

Em grego:

Ιδού, ο νυμφίος έρχεται εν τω μέσω της νυκτός και μακάριος ο δούλος ον ευρήσει γρηγορούνται, ανάξιος δε πάλιν, ον ευρήσει ραθυμούντα βλέπε ούν, ψυχή μου, μη τω ύπνω κατενεχθής ίνα μη τω θανάτω παραδοθής, και της βασιλείας έξω κλεισθής αλλά ανάνηψον κράζουσα άγιος, άγιος, άγιος ει ο θεός ημών, διά της θεοτόκου ελέησον ημάς.

Em português:

Eis o Esposo vem no meio da noite; bem aventurado o servo que ele achar vigilante; indigno, porém, o servo que ele achar negligente! Cuidado, portanto, minha alma, para não te deixares oprimir pelo sono, para não ser entregue a morte e encerrada fora do reino! Ao contrário, vigiando grita: Santo, Santo, Santo és tu, ó Deus! Pela intercessão da Mãe de Deus, tem piedade de nós!

A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!

sábado, 7 de novembro de 2009

ASSINAR UM ÍCONE ?

Numa obra de arte é comum perceber a assinatura do seu autor, pois o privilegia. Para o expectador, ele contempla a obra e, pela visão, é atraído pela beleza e aí redirecionado ao nome por causa da assinatura. Nesse caso o nome do autor é a identidade do prazer atribuído à beleza.
Na iconografia, o artista “serve” a cânones estabelecidos pela Tradição da Igreja com os seus dons e técnicas.

“Os artistas e os materiais são meios, pois
o verdadeiro iconógrafo é o Espírito Santo”

(Cláudio Pastro. Arte Sacra: O espaço sagrado hoje, pág. 217).

Assim a evidência não deve ser direcionada ao autor, mas à maior glória de Deus e da sua Santa Igreja. O iconógrafo somente cede seus dons ao Doador dos dons e canta como o salmista:

“Não a nós, o Senhor, não a nós,
ao vosso nome, porém, seja a glória
porque sois todo amor e verdade!”

(Sl 115,1)

Por isso, em muitos ícones, não se assinam e, quando assinados, vêm antecedidos pela frase: por mão de, pois se apresenta não como “criador”, como se costuma dizer agora, mas como simples executor e transmissor de uma obra querida pela Igreja.



Este ícone apresenta no canto inferior esquerdo (de quem olha) a assinatura:
Mosteiro da Anunciação - Patmos, 1995 - Por mão de + Markelles Monge

“Este modo de assinar aparece nos ambientes cretenses e venezianos a partir do séc. XVI, como reação ao uso ocidental dos artistas, desde a Renascença, de assinar como próprio nome suas obras” (Georges Garib. Os Ícones de Cristo: história e culto, p. 282).
Alguns ícones modernos já aparesentam uma assinatura do próprio autor, mas fica a questão de que quem se sobressai não é o Mistério Representado, mas o "artista". Assim o autor da pintura reduz a teologia e o mistério do ícone em um "mero" quadro dentre outros.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

TÊMPERA A OVO

O mais antigo e natural tipo de emulsão de têmpera é a gema de ovo. As gemas dos ovos de galinha contêm uma solução aquosa de substância gomosa, albumina, um óleo não-secativo chamado óleo de ovo, e lecitina, um lipóide ou substância gordurosa que é um dos emulsificadores ou estabilizadores mais eficientes da natureza.

Inúmeras instruções para o uso da têmpera de ovo nos chegaram de todos os períodos da arte européia. A técnica tradicional da gema de ovo pura é preparada da maneira apresentada a seguir:

MODO DE FAZER

Primeiro separa-se a gema da clara. Uma gema pura, livre da clara, é o material padrão. Após a gema estar separada da clara pelo método comum de alternar despejando, uma na outra, as metades da casca ou, melhor, pelo uso de um separador de clara e gema, a gema é rolada ligeiramente numa toalha de papel para secar a camada de clara aderente e a maior parte da calaza (um dos cordões que prendem a gema à membrana do ovo das aves), e então é transferida para a palma da mão aberta e reta (e não em forma de concha), levantada pelo polegar e dedo indicador da outra mão de modo a não romper a pele, e suspensa sobre um frasco ou xícara. A pele é então perfurada na base com uma faca ou ponta afiada.
Uma pequena quantidade de água pode ser misturada a esta; como se utilizará água na pintura que alguma quantidade esteja adicionada nesta operação, mas use somente água destilada. A quantidade de água pode ser na mesma proporção da gema utilizada, ou seja, pode ser medida com a metade da casca do ovo limpo.
O ovo puro irá conservar-se em lugar escuro e fresco por três ou quatro dias; se for necessário conservar por mais tempo, duas colheres de vinagre branco pode ser acrescida na emulsão. O vinagre age como um preservativo tradicional do ovo.
A utilização do Cravo (essência de cravo) na emulsão é com finalidade aromática, conservante e fungicida. Para não alterar as propriedades da emulsão utilizam-se, apenas, três grãos de cravo diretamente no frasco que será utilizado para armazenamento.

Obs.: Essa emulsão pode ser guardada em geladeira.

*Fonte: Ralph Mayer, Manual do Artista

ESPIRITUALIDADE DA TÊMPERA

Na utilização da têmpera para a inscrição de um ícone, o ovo, a água, o vinagre e o cravo pode ser empregado um sentido espiritual quando contemplamos a paixão e ressurreição de Cristo, Nosso Senhor.
O ovo é símbolo da vida. Uma nova vida que se rompe de um envólucro. Símbolo da Ressurreição de Jesus, enquanto que a água é utilizada no batismo e na santificação de pequenos objetos para a utilização devocional, ou mesmo, sacro (litúrgico). O vinagre lembra a paixão de Cristo, assim como os 3 cravos.
Com essa simbologia podemos nos aprofundar ainda mais no sentido sacro da inscrição dos ícones.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A TÉCNICA

A PREPARAÇÃO DA MADEIRA

É preciso uma madeira resistente e bem seca, de 15 a 20mm de espessura, coberta inicialmente com cola firme e bastante líquida para penetrar a madeira. Quase sempre com essa mesma cola se fixa sobre a madeira uma tela finíssima e limpa. Às vezes, escava-se o centro da madeira, deixando um contorno de 2 a 5 cm por alguns milímetros de altura, formando nos quatros lados uma espécie de moldura.

O LEVKAS

Uma espécie de cola forte de coelho e pó de pedra branca (mármore ou gesso) é espalhada várias vezes sobre a madeira, pincelando e deixando secar bem cada vez. Forma-se, assim, sobre a madeira, um branco (levkas) harmonioso, polido pacientemente com lixa fina até se obter uma superfície branca e dura, pronta para realizar o desenho.

O DESENHO

(Ver: Esquemas Iconográficos Cristo e Theotókos)
Os contornos das imagens são esboçados com uma ponta fina ou com um lápis, ou ainda com um pincelzinho embebido na ocra preparada a têmpera. Naturalmente, antes de tudo, o iconógrafo já teria preparado um bom modelo, servindo-se de ícones antigos reproduzidos em papel; de um guia-manual que lhe permita conformar-se com a tradição.

A DOURAÇÃO

Cobre-se a superfície a ser dourada (auréola ou fundo) com um extrato de ocre amarelo ou vermelho. Em seguida, enverniza-se com o mordente; sobre o verniz, estando seco, mas ainda pegajoso, aplica-se a folha de ouro. Deixa-se secar. Limpam-se os contornos com um pincel macio e aplica-se outro verniz para protegê-lo.

A EMULSÃO

Existem numerosas receitas para a preparação da emulsão com gema de ovo como aglutinante (pintura a têmpera). Eis algumas:

1 gema de ovo
2 partes de vinho branco de mesa

ou,

1 gema de ovo
1 parte de água
2 colheres de vinagre branco (ácido ascético)
3 cravos da índia

ou ainda,

1 gema de ovo
1 parte de cerveja clara

Em todos estes casos é necessário misturar bem a emulsão antes de usá-las e, para conservar, deve ser guardadas em geladeira e a utilização deve ser com conta-gotas comum.

A PINTURA

Com o pó da cor que se deseja, misturando com um pouco de água, se acrescenta a emulsão e obtém-se um colorido que é passado em camada fina, sutil e uniforme. Diversamente do processo da pintura a óleo, aqui nunca se usam as “pinceladas grossas”.Quando a primeira camada de cor estiver seca, cobre-se com uma segunda da mesma cor mais diluída em água; repete-se o processo várias vezes. Com um pincel fino traça-se as linhas externas e depois as internas sobre as superfícies de uma mesma cor, porém mais escura e menos diluída. Para se dar mais destaque a certas partes, escurece-se a parte não iluminada, empregando-se uma cor de tom escuro, mais profundo do que o usado anteriormente ou, também, “clareiam-se” as partes iluminadas. A claridade se obtém através de várias camadas (duas ou quatro), colocando-se sobre a superfície seca a cor já empregada com o acréscimo de um pouco de um pó branco. Este processo é contínuo, feito por várias vezes, limitando cada vez a superfície pintada. O último efeito de luz é obtido com alguns tracinhos de branco puro, obtendo-se uma luminosidade de um só tom ou reflexo simples. Mas, às vezes, emprega-se o reflexo de duas cores (por exemplo, uma cor fria azul pode ser iluminada com uma tinta quente como por o vermelho).

AS INSCRIÇÕES

A inscrição é feita em uma das línguas litúrgicas bizantinas: grego, eslavo, árabe, hebraico etc. Porém, conservam-se as abreviações em grego para indicar a Mãe de Deus (MP OY) e Jesus Cristo (IC XC). Na auréola de Cristo, onde se desenha uma cruz, encontra-se sempre as três letras "O WN", isto é, “Aquele que é”, o nome de Deus revelado a Moisés, quando se encontrou diante da sarça ardente.

domingo, 11 de outubro de 2009

O ICONÓGRAFO

O autor de ícones é chamado iconógrafo, que significa “aquele que escreve ícones”. Em relação ao artista, não se diz, portanto, que pinta ícones, mas que os escreve.
No passado, o iconógrafo era, sobretudo, um monge, enquanto familiarizado com a vida espiritual: na oração, no silêncio, na ascese, no jejum. Ele mergulhava no mundo ultraterreno e, vivendo em companhia dos santos, podia melhor exprimir o rosto e o mistério. O costume da oração e da disciplina monástica se tornava, assim, importantes componentes da ação do artista. Como modelo exemplar de monges iconógrafos, citamos: Andrej Rublev e Dionísio de Furná.
A igreja ortodoxa, ao lado de várias ordens dos santos: confessores, mártires, doutores, virgens etc., coloca também os santos iconógrafos, cuja arte é considerada um testemunho evidente de santidade. Entre eles enumera-se Santo Alípio, pintor de ícones do mosteiro das grutas de Kiev e o, já citado, Santo Andrej Rublev, canonizado pela Igreja eslava.
O Concílio Moscovita dos “Cem Capítulos” (1551) traça um exigente perfil do iconógrafo, apontando as qualidades que se deve cultivar e os defeitos a serem evitados: “o pintor de ícones deve ser humilde, dócil, piedoso, pouco falante, não zombador, não briguento, não invejoso, não beberrão, não gatuno e deve conservar a pureza da alma e do corpo”.

A ORAÇÃO E O JEJUM

Em nossos dias não há uma exigência de que seja, o iconógrafo, um monge, mas que esteja intimamente ligado à sua Igreja local e que tenha uma vida íntima de oração, pois ao pintor diz respeito somente o aspecto técnico da obra, mas toda a sua organização (diátaxis, portanto, disposição, criação, composição) pertence e depende claramente dos Santos Padres.
Logo, sem oração, o iconógrafo encontra-se morto para o mundo espiritual e ainda que possuísse perfeitamente a técnica do ícone, a sua obra sempre seria sem alma.
Existe um modelo específico de oração para o iconógrafo iniciar o seu trabalho e que se encontra nos manuais de iconografia:

“Oh Divino Mestre! Ardoroso artífice de toda a criação. Ilumina o olhar do teu servo, guarda o seu coração, rege e governa a sua mão para que, dignamente e com perfeição, possa representar a Tua Santa imagem. Para a glória, a alegria e a beleza da Tua Santa Igreja”.

E, enquanto é executada a obra, mentalmente, invoca-se ininterruptamente o nome de Jesus, na breve oração:

“Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, tende piedade de mim”.

O melhor jejum para o iconógrafo é o da visão, pois, conforme o dizer popular: “os olhos são as janelas da alma”, é pelo sentido da visão que se pode entorpecer diretamente a alma pura. Nesse sentido a busca pela face do Senhor, conforme canta o salmista: “Tenho os olhos sempre fitos no Senhor” (Sl 24, 15), santifica a visão e o interior e o fortalece no cumprimento do seu ofício de “escritor” da imagem sacra.

O SERVIÇO DIVINO

O iconógrafo é um missionário da beleza incriada. Sua missão é tornar visível com traços e cores o espiritual, ou seja, o Divino.
O homem que cria imagem de culto não é um artista no nosso sentido. Não cria, mas serve à presença, contempla. A imagem de culto contém algo. Está em relação com o dogma, o sacramento, a realidade objetiva da Igreja. O artista de imagens de culto requer uma e missão por parte da Igreja. Seu serviço será um ministério.

AS REGRAS DO ICONÓGRAFO

I. Antes de iniciar o trabalho, faça o sinal da cruz, ora em silêncio e perdoa os teus inimigos;
II. Faça várias vezes o sinal da cruz durante o trabalho, para fortificar-se física e espiritualmente;
III. Conserva o teu espírito longe das distrações e o Senhor estará perto de ti;
IV. Cuide de cada detalhe do teu ícone como se trabalhasse diante do próprio Senhor;
V. Quando escolher uma cor, eleve interiormente tuas mãos ao Senhor e peças conselho;
VI. Não sejas invejoso do trabalho do teu próximo;
VII. Terminado o teu ícone, agradeça ao Senhor, porque a Sua misericórdia concedeu a possibilidade de pintar as Santas Imagens;
VIII. Seja tu mesmo, o primeiro a orar diante do teu ícone;
IX. Jamais esqueças:
- a alegria de difundir os ícones no mundo;
- teu trabalho deve ser de felicidade;
- tu serves, comunicas e cantas a Glória do Senhor através do teu ícone.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O que é um ÍCONE

Conforme a definição técnica, ícone é a representação de uma personagem ou cena em pintura sobre madeira, não raro recoberta de um metal precioso (geralmente ouro), ela própria considerada sagrada e objeto de culto. A palavra “ícone” deriva do grego eikóna , que quer dizer “imagem, representação, gravura ou figura” O novo testamento aplica esta palavra a Cristo, quando diz que “Ele é a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15).
Não se pode definir o ícone somente pelos aspectos exteriores, seria limitá-lo demais. Nele une a teologia, a arte, a liturgia e uma tradição canônica em sua confecção que remonta os primeiros séculos do cristianismo nascente. Podemos dizer, então, que é uma pintura, geralmente portátil, de gênero sagrado, executada sobre madeira com uma técnica particular, segundo uma tradição transmitida pelos séculos.Os ícones são parábolas dogmáticas, por isso eles não são belos como as obras de arte, mas como a própria verdade. E a verdade dispensa explicações, porém a explicação da verdade não elimina seu mistério.

“Enfim, Deus revela Sua Face Humana,
a Palavra se torna objeto de contemplação”
(Pavel Evdokmov)

“O ícone transcreve pela IMAGEM
a mensagem evangélica
que a Sagrada Escritura
transmite pela PALAVRA”
(Catecismo da Igreja Católica, 1160)
A PALAVRA SE FAZ IMAGEM

Os ícones haurem toda sua significação do mistério da Encarnação do Filho de Deus. Ele próprio, o ícone, a imagem do Deus invisível, é o molde ou modelo, segundo o qual se deve esculpir na alma a Imagem da Divindade que nos criou até “atingir o estado de homens feitos, de acordo com a idade madura da plenitude de Cristo” (Ef 4,13). Pois que cada ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26s; 5,1). Nesse sentido, com a Encarnação do Filho de Deus torna-se possível descrever sua imagem baseando-nos nos aspectos históricos, culturais e geográficos de sua época.
No contexto histórico firma-se sua humanidade, nascimento, infância, fase adulta e morte. O aspecto cultural exprime os traços idéias da pessoa de Cristo Deus-Homem: a figura do Bom Pastor, Cristo Mestre, Taumaturgo, Doador da Vida, dentre outros. Os traços geográficos revelam sua etnia e costumes.


A IMAGEM ACHIROPITA

São chamadas Achiropita, isto é, “não feitas por mão humanas”, algumas imagens devidas a uma intervenção prodigiosa. No mundo ocidental é conhecido o relato de Verônica (vero + ícone = verdadeira imagem) que, segundo a lenda, enxugou o rosto de Cristo em sua passagem na via sacra, ou seja, enquanto Jesus era conduzido ao Gólgota para lá ser crucificado. Conta tal episódio que ela, compadecida das dores de Cristo, quis enxugar o seu rosto que se encontrava ensanguentado devido o flagelo e teve a surpresa de ver impresso no linho a Sagrada Face.
No mundo oriental o Achiropita conhecido é o Mandillyon, nome aramaico e árabe que significa “toalha”. Tradicionalmente designa o linho sobre o qual Cristo imprimiu milagrosamente os traços de seu rosto e que mandou ao rei Abgar V, de Edessa, atual Urfa, na Turquia.
Outra imagem “não feita por mão humana” é o tão conhecido Santo Sudário, única ainda conservada. É aquela que José de Arimatéia e Nicodemos envolveu o corpo de Jesus retirado da cruz e o banhou com uma mistura de mirra e aloés, como os judeus costumavam sepultar. Este relato se encontra na Sagrada Escritura, no evangelho de S. João (19, 38-42; 20, 3-8).


S. LUCAS, O PRIMEIRO ICONÓGRAFO MARIANO

Enquanto as primeiras imagens de Jesus Cristo foram impressas de forma prodigiosa, ou seja, “não feita por mão humana”, a tipologia mariana foi inspirada por S. Lucas. Segundo uma antiqüíssima tradição a Mãe de Deus teria posado, segurando o menino-Jesus no colo, para que o evangelista a pintasse inspirado por Deus (assim representado por um anjo). O produto dessa imagem seria o modelo de todos os ícones marianos que subsistem.
O primeiro a acolher, por escrito, a tradição da autoria lucana dos ícones da Mãe de Deus foi o escritor grego Teodoro, o Leitor, no século VI, eu sua “História Eclesiástica”. Remontando uma tradição corrente no século V, ele narra a transferência do ícone de Hodghítria, de Jerusalém para Constantinopla, por iniciativa da Imperatriz Eudóxia, e registra que essa tradição atribuía a venerável imagem a São Lucas.
É perceptível pela comparação dos evangelhos sinóticos que S. Lucas busca tratar do tema da infância de Jesus com mais detalhes e, nisso, inclui sua mãe e, por isso, podemos concluir a veracidade do fato de que ele foi o primeiro a escrever em imagem (iconógrafo: ícone, “imagem” + grafo, “escrita”), senão em madeira, ao menos em rolos de pergaminhos.

domingo, 27 de setembro de 2009

ESQUEMA ICONOGRÁFICO (Θεοτόκος)

Agora, dando continuidade aos esquemas iconográficos, coloco a disposição alguns desenhos de ícones da Mãe de Deus (Θεοτόκος) para servir de molde para os iconógrafos e interessados.


sábado, 26 de setembro de 2009

ESQUEMA ICONOGRÁFICO (Cristo)

O monge e iconógrafo Dionízio de Furná, que viveu no Monte Athos, compilou alguns textos antigos sobre a realização dos ícones: os materiais, regras de composição, preparação, dourado, a pintura e suas técnicas, o uso dos materiais, descrições, diagramas e esquemas iconográficos. Esses textos estão reunidos no "Manual de Pintura" e nele possuem alguns esquemas de desenhos de ícones.
Como ainda não temos este manual traduzido para o português deixo abaixo alguns modelos de desenhos de ícones de Cristo para baixar.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Fotografia

ÍCONES

A fotógrafa que usa o pseudônimo "Saucylittleone" colocou disponível na internet uma coleção de, aproximadamente, 40 fotografias em que enfoca mulheres ortodoxas com ícones das suas santas padroeiras. Todas as imagens estão em preto e branco, o que realça a sua beleza e o peso da espiritualidade que carregam.
A coleção completa, em "slideshow", que dispensa qualquer palavra, pode ser vista aqui.