sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

DEUS NA ICONOGRAFIA


A imagem da Primeira Pessoa da Santíssima Trindade é bem difícil de ser encontrada nos antigos ícones. Encontramos de maneira representativa nos ícones da hospitalidade de Abraão (cf. Gn 18, 1-7) ou na clássica tipologia da Santíssima Trindade (idealizado por Rublev). “Nesses três homens, aos quais Abraão se dirige no singular, muitos Padres viram o anúncio do mistério da Trindade, cuja revelação é reservada ao NT” (nota da Bíblia de Jerusalém, p. 56).

Não é raro encontrarmos somente uma indicação da manifestação de Deus nos ícones, ora como um raio ou um feixe de luz ora como uma mão abençoando, isso porque Deus-Pai se comunica aos homens através de sua Palavra, ou seja, Ele se revela como Aquele que existe, “Aquele que é” (cf. Ex 3,14; Apoc 1,8), cuja forma grega de se escrever – O WN – se encontra na auréola crucífera de Cristo. Assim, podemos perceber que Cristo é o ícone visível do Deus invisível (cf. Col 1,15). Então, alguns iconógrafos entenderam que Cristo “é antes de tudo e tudo nele subsiste” (Col. 1,17) e escreveram os ícones do Gênesis, ou da Criação como se Jesus Cristo – IC XC – fosse aquele que plasmou tudo o que existe. Sim, porque “Ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito” (Jo 1, 2-3).

Uma imagem mais tardia é a representação de Deus, primeira pessoa da Trindade Santa, temporal e antropomorfa. Em alguns ícones Ele é mostrado como um Ancião, enfatizando o aspecto simbólico da sabedoria (mesmo havendo um ícone próprio da Santa Sabedoria), nesse caso os ícones assim representados se chamará de ícone da Paternidade; mas, em outros casos, um mesmo Ancião é o próprio Filho, prefigurado pelo Profeta Daniel (cf. Dn 7, 9-10), assim o Filho também é chamado de “Antigo de Dias”, para melhor explicação sobre esse tema busco, em Gharib, as palavras de Dionísio Aeropagita quando diz, depois de ter explicado o significado do Pantocrator:

“É celebrado também como Antigo de Dias, pelo fato de ser a eternidade e o tempo de todas as coisas e ao mesmo tempo preceder os dias, a eternidade e o tempo... Por isso, também nas sagradas aparições das visões místicas, Deus assume a figura de um Ancião e a de um jovem: a primeira significa que é o princípio e que existe desde o princípio; a segunda, que escapa a toda mudança; as duas visões nos ensinam que ele procede, do início ao fim, através de todas as coisas” (Gharib, p. 121).


Fonte bibliográfica:
A BÍBLIA DE JERUSALÉM. Tradução de Euclídes Martins Balancin et al. 5 ed. São Paulo: Paulinas, 1991;
GHARIB, Georges. Os ícones de Cristo: História e Culto. São Paulo: Paulus, 1997


A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!

sábado, 16 de janeiro de 2010

LIVRO SOBRE ÍCONES: M. Donadeo


Muitos leitores estão pedindo dicas de livros sobre iconografia, então colocarei algumas postagens sobre Referências Bibliográficas específicas sobre iconografia ou relacionada a este. Então, para iniciar, escolhi uma pequena coleção da Irmã Maria Donadeo, que já nos é um clássico.

Irmã Maria Donadeo - religiosa do Mosteiro de Uspenskij (mosteiro católico de rito bizantino), em Roma - colocou a disposição, através da editora Paulinas, sua profunda experiência com os santos ícones em três volumes:

Os ícones: Imagens do invisível

Nesta obra, a primeira parte apresenta teoricamente o ícone e seus componentes religiosos e histórico-artístico. Na segunda parte são examinados detalhadamente diferentes tipos de ícones, reproduzidos em um encarte em cores. E numa terceira parte inclui algumas orações e o ritual de bençãos dos ícones.

Esse livrinho de apenas 142 páginas, nos imbui no mistério dos santos ícones e nos impulsiona no desejo de aprofundar o estudo com outras leituras, pesquisas e experiências de orações.

Editora: Paulinas
Ano: 1996
Coleção: Clarões
Número de páginas: 142
Formato: Médio 12,5 x 18 cm
ISBN: 85-7311-671-4

Ícones da Mãe de Deus

Este é o segundo volume da coleção em que a autora se dedica especialmente aos ícones da Theotókos (Mãe de Deus), destacando os princípios fundamentais com os indícios de seu desenvolvimento no tempo. As palavras de dois ortodoxos também se fazem ouvir nesta primeira parte do livro. Numa segunda parte há as descrições de vários tipos de ícones marianos e o diálogo entre o primeiro e segundo milênio através de intelectuais e santos, sobre o culto e louvores a Santa Mãe de Deus.

Editora: Paulinas
Ano: 1997
Coleção: Clarões
Número de páginas: 152
Formato: Médio 12,5 x 18 cm
ISBN: 85-7311-792-3

Ícone de Cristo e dos Santos

Neste terceiro volume a autora dedica suas palavras aos ícones de Cristo e dos Santos, obedecendo à mesma subdivisão dos outros dois já conhecidos, com uma primeira parte mais teórica, e uma segunda parte onde se examina em detalhes 17 ícones reproduzidos no encarte em cores.

Editora: Paulinas
Ano: 1997
Coleção: Clarões
Número de páginas: 136
Formato: Médio 12,5 x 18 cm
ISBN: 85-7311-784-2

Apesar de esses três livros serem referências nas pesquisas e aprofundamento sobre iconografia bizantina, infelizmente já não são mais editados. Podendo ser encontrados para venda em sebos (livrarias de livros usados) e pela internet, sendo o Mercado Livre uma boa opção.


A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

COMPOSIÇÃO DO CENÁRIO

A composição de um cenário num ícone não se assemelha a realidade. Muitas vezes todas as figuras que compõe este cenário (arquitetura, objetos, mundo vegetal, animal e mineral etc.)servem para enfatizar o acontecimento representado no ícone.

No ícone da Anunciação, a cena, conforme o texto bíblico (Lc 1, 26-37), indica que o acontecimento ocorreu "dentro" de algum lugar [Entrando onde ela estava... (v. 28)], mas visualmente vemos a cena ocorrer "fora". Essa indicação nos é passada por causa da imagem dos prédios ao fundo; porém, a atenção deve-se voltar ao tecido vermelho que é posto em um desses prédios ou ligando-os, pois é ele quem indica que a cena ocorre num espaço interno. Esse mesmo detalhe pode ser observado em alguns ícones da Apresentação de Jesus no Templo, da Incredulidade de S. Tomé, de Pentecostes, dentre outros.

A representação do mundo vegetal e animal, nos ícones, são apenas indícios ou, às vezes, estão "de maneira um pouco extraordinária, além da lógica humana" (Donadeo, p. 56). As rochas e montanhas são usadas como acessórios de fundo, mas com um simbolismo todo especial, pois eram onde a presença de Deus se manifestava (Horeb, Sinai, Carmelo, Sião, Calvário etc.).

As montanhas "são representadas como se estivessem inclinadas para o santo em sinal de respeito, o que significa que até a matéria criada foi transformada pela santa presença. As árvores e a vegetação também reconhecem esta presença, inclinando-se em direção ao santo ou estendo-se para frente em direção ao reino do divino em alegre louvor" (Kala, p. 23).

A arquitetura que aparece nos ícones não guarda nenhum respeito às proporções. Janelas e portas encontram-se em locais totalmente estranhos e as dimensões corretas não são obedecidas. Às vezes, alguns objetos (por exemplo, uma cadeira), são desenhados deformados.

Todas essas observações quanto à composição de um cenário na iconografia evidencia que os acontecimentos representados não estão presos a um momento histórico preciso, mas "pertencem ao mundo do espírito" (Kala, p. 32).

Fonte bibliográfica:
DONADEO, Maria. Os ícones: imagens do invisível. São Paulo: Paulinas, 1996;
KALA, Thomas. Meditações sobre os ícones. São Paulo: Paulus, 1995.

Crédito de imagens:
Jacques Bihin



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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

ESQUEMA ICONOGRÁFICO (Festas Litúrgicas)

Os esquemas iconográficos mais complicados são os de Festas Litúrgicas, pois além dos personagens - que são muitos, ainda há uma porção de objetos, arquiteturas, vegetais e, por vezes, animais. Visando a descomplicação no momento da transferência (decalque) do desenho para a tábua a ser pintada, sugiro aqui alguns esquemas para facilitar ao iconógrafo.









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sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

1o. Sorteio do Atelier Santa Cruz

A você que sempre quis ter um ícone pintado a mão, que tal inicar 2010 concorrendo a um?!

O prêmio é um ícone de Cristo Esposo, de 30 x 40cm, em têmpera sobre levkas em MDF. Escrito em 2009, por Walter Welington.

Regras / Como Participar:

A ou O participante que quiser concorrer basta:
  • Ser um SEGUIDOR deste blog (caixinha ao lado), ter residência no Brasil e
  • No CONTATO enviar, através do formulário, a frase: "Quero um Ícone!", até o dia 23 de março de 2010.
Cada seguidor terá direito a concorrer uma única vez.

Aqueles que, além de seguir, DIVULGAR o sorteio poderão concorrer com mais uma frase. É só enviar o link da divulgação e a frase: "Estou divulgando", através do mesmo formulário.

O sorteio será realizado no dia 25 de março de 2010 (festa da Anunciação da Ss. Mãe de Deus, a sempre virgem Maria) e o vencedor será anunciado no mesmo dia.

Será escolhido aleatoriamente um número de 1 a x (sendo x o número total de participantes) e será premiada a pessoa com a frase de número correspondente ao sorteado.