segunda-feira, 28 de junho de 2010

LIVRO SOBRE ÍCONE: S. Licari

O Ícone: uma escola de oração

O padre Saverio Licari, é natural de Palermo, na Itália, e Mestre em Teologia Moral. Com um currículo rico e diversificado, utiliza do seu conhecimento para nos aproximar da iconografia cristã bizantina por meio desse pequeno livro.

Subtitular um livro como "Uma escola de oração", sugere que em seu interior o autor nos aponte passos de uma oração centrada no seu objeto de exposição, ou seja, "o Ícone". E assim, o pe. Licari o fez muito bem. Inicialmente, apresenta a fundamentação teológica e bíblica da imagem sagrada. Em seguida, oferece a meditação, a interpretação e a descrição teológico-espiritual do que é considerado o "ícone dos ícones": a Santíssima Trindade, do santo monge iconógrafo Andreij Rublev.

De uma forma simples e acessível esse livro é uma introdução sobre o tema. Introdução esta que nos apresenta recheado de passagens de documentos da Igreja católica ocidental, o que nos torna mais próximos dessa riqueza artística-espiritual dos santos ícones.

Editora: Loyola
Ano: 2010
Número de página: 126
Formato: Médio 14 x 21 cm
ISBN: 85.15.03725-4

Uma boa referência bibliográfica e que deve constar nas estantes de todos os interessados no assunto.


A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!

domingo, 27 de junho de 2010

A OLIFA


Sobre um ícone, o verniz, não serve somente para proteger a pintura da umidade, da ação da luz ou do ar e lesões mecânicas. O verniz do ícone, a olifa, é um óleo que penetra e unifica as diversas demãos de camadas de tintas para dar uma harmonia típica, feita de luz e profundidade e para preservar a vivacidade das cores ao longo dos séculos.

Todavia a olifa também apresenta defeitos: ela seca muito lentamente, absorve a fumaça das velas e, ainda, forma sobre o ícone antigo uma camada escura. Acreditava-se até o início do século passado que os ícones tinham um tom muito escuro, porém a primeira restauração científica fez aparecer, ao contrário, as cores vivas e alegres da Idade Média. Além disso, as camadas densas de olifa são sensíveis às mudanças de temperatura. Mas, se o envernizado for bem feito, esses problemas podem ser evitados.

COMO FAZER

Aquece-se em um recipiente o óleo de linhaça de boa qualidade. Quando a começar a sair fumaça (uma temperatura de 285 graus), se retira do fogo e adicione, mexendo com um bastão, o pó que serve como secante, na seguinte proporção:

- Acetado de Cobalto 3% (3 g/litro);
- Óxido de Chumbo* 7 - 8%.

Após o esfriamento do óleo pode ser filtrado para retirar o excesso de impurezas, em seguida despeje em um frasco limpo, transparente e com tampa. Para clarear essa solução, exponha-o à luz ou ao sol, certificando que o frasco esteja bem fechado. Alguns iconógrafos dissolvem alguns cristais de Damar em terebintina e acrescentam ao óleo. Na Grécia essa olifa é exposta ao sol durante quarenta dias para obter uma melhor qualidade.

A preparação da olifa é bem difícil e nem sempre é bem sucedida. Também é difícil encontrar o pó secante em pouca quantidade.

MODO DE USAR


Após ter analizado cuidadosamente e removida toda poeira do ícone, despeje a olifa sobre a superfície do ícone e espalhe com os dedos ou com um pincel macio. A camada deve ser bastante espessa. O ícone deve permanecer na horizontal. Para proteger de poeiras, cubra com uma tela. Depois de 20 minutos pode-se alisar a olifa com a palma da mão, porque é absorvido de modo irregular. Depois de outros de 20 minutos o excesso de olifa pode ser retirado com as mãos.
Deixe secar sob a tela, por mais ou menos um dia e meio. Pode, ainda, dar mais duas demãos de olifa, sendo que cada uma dessas demãos seja uma camada mais fina. Ao final do trabalho a camada deve estar suave e levemente brilhante, como se estivesse passado cera.
Quando o ícone estiver completamente seco (por vezes, ocorre algumas semanas), pode cobrir com uma demão rápida de goma laca. Assim a poeira não se fixa à superfície.

Depois do envernizamento o ícone está pronto.

Toda descrição acima não transmite a experiência de gerações de iconógrafos; torna-se necessário o contato com um iconógrafo experiente. Além disso, nenhuma outra técnica de pintura (a óleo ou aquarela) oferece a possibilidade de expressão da têmpera a ovo que responde às exigências de uma estética própria do mundo espiritual do ícone.

* é bom lembrar que o Óxido de Chumbo é altamente tóxico e merece um cuidado extremo.

A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A ICONOSTASE


As Igrejas Católicas Bizantinas são projetadas para manifestar, em sua arquitetura e organização, o Reino de Deus aqui na Terra. Para entender o que é uma iconostase (rus.: иконостас) precisamos entender os diferentes espaços do edifício da igreja.

O Santuário, também conhecido como o Santo dos Santos (parte destinada ao clero), é a área elevada localizada na parte frontal da igreja. Normalmente essa área se encontra na parte mais Oriental do edifício da igreja para mostrar que estamos ansiosos para a vinda de Cristo, junto com o nascer do sol. O Altar ou a Santa Mesa torna presente, de um modo particular, a mesa do Senhor, ao banquete para o qual todos são chamados. Na Santa Mesa são colocados o Livro dos Evangelhos e os dons durante a Divina Liturgia e, no centro da mesa, está o tabernáculo que contém a Eucaristia reservada.

A Nave é a parte central do edifício da igreja que manifesta na Terra o caminho do mundo em direção a Cristo. Neste espaço encontramos todos os fiéis (pessoais e espirituais). Cercando o povo, nas paredes, estão os ícones (sacramentais que invocam a presença do ser representado) festivos, mostrando a ação de Deus na história da salvação. E, finalmente, diretamente acima de nós, na cúpula (isso quando houver), estaria um grande ícone do Pantocrator ("Aquele que tudo rege"). A paritr deste ícone de Cristo, pende um lustre bem elaborado que nos mostra que Cristo é a "Luz do Mundo".

O Nártex é a entrada da Igreja. Ela representa a Terra. Na ação da passagem do nártex apra a nave da igreja começa a nossa jornada para o Reino dos Céus. No batismo nós primeiro renunciamos o que mundano e nos voltamos para Cristo. Esse movimeto do nártex à nave mostra o progresso em nossa vida espiritual. Da mesma forma, no final de cada Liturgia somos enviados a irmos "em paz", carregando Cristo em nós a fim de espalhar a boa notícia com nossas palavras e ações.

Se o lugar onde se encontra o nártex e a nave é especial, também o é o espaço onde une o altar e a nave. Neste lugar "o Céu e a Terra se unem". Deus e o homem se encontram.

A Iconostase é a parede de ícones que fica no ponto de encontro do santuário com a nave. É, literalmente, uma "estante para ícones". Não é uma estrutura que divide as pessoas do altar, mas é um marcador da unidade das duas realidades: terrena e divina. Os próprios ícones são objetos que unem o mundo criado com o divino. Os ícones são as janelas através do qual há esse encontro. Muito mais que a arte religiosa estilizada, eles são sacramentais, ou seja, tornam presente a realidade dos divino.

Quando contemplamos os ícones das iconostases, vemos os caminhos que Deus percorre em nosso mundo (é a história da Salvação). O ícone da Mãe de Deus (Theotokos) que se encontra no lado esquerdo da porta central, mostra-nos não só a mãe que nos deu o Cristo; não apenas o modelo de humildade e obediência; nao apenas o modelo da própria Igreja. Este ícone não nos mostra apenas a Theotokos, mas o próprio Jesus Cristo, filho de Deus. No lado direito da porta central se encontra um ícone de Cristo, como ele está hoje. E, entre estes dois ícones, encontramos os Santos Evangelhos e a Eucaristia.

Entre estes dois ícones tembém podemos encontrar um conjunto de três portas, sendo que a mais importante é a porta central, chamada Porta Real (ou do Paraíso) e abrem para permitir que Deus entre em nossas vidas. Através destas portas qeu o Santo Evangelho, a Eucaristia e todas as bênçãos nos provêm quando nos encontramos na Igreja. Nela está representada o princípio da nossa salvação, ou seja, o ícone da festa da Anunciação, onde o Arcanjo Gabriel aparece pintado sobre a porta da esquerda e a Virgem Santíssima sobre a porta da direita. Além disso, vemos os quatro evangelistas que, com seus escritos, nos permitem conhecer os mistérios e acontecimentos de nossa salvação. As portas reais permanecem abertas durante os serviços, de modo que possamos olhar para frente e irmos ao encontro de Cristo.

Ao lado dos dois principais ícones de Cristo e da Theotokos estão as portas dos diáconos. Nestas portas vêm frequentemente representados com as imagens dos Arcanjos ou de algum diácono, pois através delas é que passam aqueles que servem a Divina Liturgia.

Ainda, seguindo a iconostase, temos, ao lado dessas portas, os ícones dos santos padroeiros da paróquia. E, acima deste nível de ícones temos uma linha de ícones festivos, que retratam todos os eventos importantes na história da salvação. Em algumas iconostases, diretamente acima da porta real, temos o ícone da Ceia Mística, onde retrata Cristo na última ceia junto com os apóstolos. E, em outros casos, vemos neste mesmo lugar, o ícone da Crucificação.

Nas igrejas de origem russa, a iconostase teve um grande desenvolvimento também em altura. Nas antigas igrejas bizantinas, as cenas teofânicas principais que se enquadravam e acompanhavam as celebrações litúrgicas eram, em geral, em mosaicos nas paredes. Na Rússia, onde frequentemente existiam igrejas de madeira, na impossibilidade de afrescar as paredes, a decoração se concentrava na iconostase. Isso contribuiu para o desenvolvimento da iconografia, pois os artistas compreenderam que cada ícone não era uma composição em si mesma, mas o elemento de um todo.

A história da Salvação é o contexto que ilustra toda a construção de uma iconostase. E, assim, pode-se admirar em vários planos ou em níveis de ícones (até seis) a representação de toda a Igreja Triunfante: os patriarcas, os profetas, os apóstolos, os anjos e os santos. Todos colocados de uma ponta à outra, convergindo poara a composição central de Deésis, isto é, Cristo em majestade, tendo de cada lado a Virgem e São João Batista na atitude de intercessão. Quase sempre, temos também o plano dos ícones com as "doze grandes festas" do ano litúrgico bizantino.

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A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!