segunda-feira, 31 de maio de 2010

O PANTOCRATOR: "Aquele que tudo Rege"


Meditação sobre o Pantocrátor


Ele é, ao mesmo tempo, o Filho de Deus humanado e o Deus que reina, que tudo rege, o Pantocrator. Ele é pintado ao mesmo tempo severo e manso. De toda a sua pessoa transpira a fragrância de perfume espiritual. De sua cabeça imaculada e da sua cabeleira se desprende uma refinada grandeza; dos seus olhos, amor, mas também seceridade, aquele de quem "percruta os corações e os rins"; do seu nariz equidade e misericórdia; da sua boca, paz e perdão; das suas faces, clemência e bondade; do seu pescoço e dos ombros, misericórdia e piedade; da sua mão direita, bênção e indulgência; da esquerda, que segura com força o santo Evangelho, se origina a Lei vivificante que conforta os abatidos; o seu queixo redondo manifesta doçura e longanimidade. Da sua boca emana o óleo da santidade; do manto que o envolve, como a nuvem ao sol, se efunde a imensidão do todo.

O Pantocrator infunde na alma devota todos os santos sentimentos, sendo ele, grande, poderoso, criador, onividente, suave, amigo dos homens, salvador, juiz, humilde, severo, misericordioso. Ele é, segundo a palavra de Ezequiel, "a Águia grande de grandes asas, que voa eterno e incorrupto sobre o mundo caduco". Para ele "mil anos são como o dia de ontem que passou". Ele é duro para os maus, ao passo que para os que crêem e os humildes é Sol imortal, Fonte de vida e vivificante. Ergendo para ele os seus olhos, estes gritam com júbilo: "Na luz gloriosa da tua face caminharemos para sempre".

Ele vigia lá em cima dia e noite, de manhã e de tarde, no inverno e no verão, sem mudança, eterno, desde antes dos séculos dos séculos e nos séculos dos séculos. O sol sensível nasce e se esconde, mas o Senhor não se cansa de abençoar da sua morada o mundo pecador. O Senhor vigia sereno sobre o mundo dia e noite, no século do século.

*Photios Kontoglou (1895-1965)



A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

LIVRO SOBRE ÍCONES: G. Parravicini

A Vida de Maria em Ícones

Giovana Parravicini, organizadora de várias publicações referentes à história da Igreja Russa, concede uma atenção a este livro com uma especial importância em apresentar o conhecimento da vida da Mãe de Deus pelas sagradas iconografias russas. A introdução desta obra fica ao encargo do Padre Stefano Di Fiores, teólogo mariano, onde ressalta que "o verdadeiro ícone de Maria [...] é aquele que manifesta seu mistério, isto é, que leva o cristão ao conhecimento e ao amor do Filho, do Espírito e do Pai".

Preciosos e raros ícones orientais, como pedrinhas de um mosaico, são dispostos para formar a vida da Virgem. O intinerário é acompanhado de um comentário que guia com facilidade o leitor na interpretação das imagens e símbolos.

Uma vida de Maria narrada com os escritos dos grandes Padres da Igreja ortodoxa, os hinos e os cânones da liturgia bizantina.

O caminho da beleza para entrar no coração do mistério cristão e deixar-se envolver pelo fascínio da Mãe "que carrega o Menino", que mostra e o entrega aos crentes.

Editora: Loyola
Ano: 2008
Número de páginas: 192
Formato: Brochura - 17 x 24 cm
ISBN: 85-15-03570-0

Grande relevância tem esta obra para os apreciadores da iconografia da Igreja Católica Oriental. É mais um referencial bibliográfico que não pode faltar na estante dos estudiosos sobre o assunto.

A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!

terça-feira, 18 de maio de 2010

TIPOLOGIA ICONOGRÁFICA DE JESUS CRISTO

Neste tópico apresentaremos a tipologia dos ícones de Cristo que nos são representados de forma repetida e em vários aspectos. Assim enumeramremos os três tipos básicos: o Emanuel, o Mandilion e o Pantocrator. Num momento posterior apresentaremos os ícones mistéricos, ou seja, aqueles que apresentam os grandes mistérios da vida de Nosso Senhor e Deus Jesus Cristo.

Emanuel

A nomenclatura desse tipo nos advém da profecia de Isaías, quando diz: Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho e por-lhe-á o nome de Emanuel (Is 7,14). Emanuel, palavra de origem hebraica, significa Deus conosco.




Características Básicas

- Possui traços somáticos de um adolescente quase adulto refulgente de juventude;
- Usa as mesmas vestes do Cristo adulto;
- Sua fronte mais avantajada enfatiza a simbologia da sua inteligência e sabedoria.

Campo de Aplicação

Como vimos na tipologia iconográfica da Mãe de Deus, numerosíssimos ícones marianos (Odighítria, Eleousa, Galaktrotrophousa etc.) estão presentes a figura do Emanuel, dessa forma vemos que a personagem principal não é Maria, mas o Menino que ela leva nos braços.


Nos ícones festivos que Jesus aparece como criança. Dentre estes recordemos as representações do Nascimento de Jesus, da Adoração dos Magos, da Fuga para o Egito, da Circuncisão, da Apresentação no Templo, do Menino Jesus entre os doutores, dentre outros.
Cristo é apresentado no tipo Emanuel, que destaca o aspecto temporal de Cristo, no qual ele dá testemunho à verdade da encarnação: o Verbo de Deus que conheceu a idade da infância e da adolescência. Em todas as idades da sua jovem vida, Cristo permanece a mesma Sabedoria hipostática do Pai.

No ícone da Divina Sabedoria, o Emanuel aparece representando a Sabedoria que estava em Deus antes dos séculos. Este ícone possui sua inspiração no capítulo 9, do livro dos Provérbios. Partindo ainda desta inspiração o Emanuel se apresenta nos ícones chamados Anjo (ou Mensageiro) do Grande Conselho.

Nos ícone da Sinaxe dos Incorpóreos, o Emanuel aparece num escudo e a meio busto, rodeado de anjos. Este ícone é destinado às festas dos anjos, mas a reunião faz pensar numa espécie de decisão comum, anterior à encarnação, de levar ao mundo a notícia do futuro nascimento do seu Senhor e Criador.

Mandilion

O tipo iconográfico Achiropita (gr.: Não feito por mão humana) ou Mandilion é considerado, por sua grande importância, como o arquétipo e a fonte de toda imagem de Cristo.

Para essa tipologia possui duas tradições apócrifas importantíssimas. A primeira, fala de um retrato de Jesus ainda vivo milagrosamente impresso por Ele num tecido - o Santo Mandilion - e por Ele mesmo enviado ao Rei de Edessa, Abgar V. Este, ao receber o retrato milagroso, teria sido curado da lepra e, posteriormente, ter-se-ia feito cristão com todo o seu reino.

A segunda tradição refere-se à Verônica, que fala do retrato facial de Jesus, a caminho do Calvário, teria estampado milagrosamente no pano que aquela piedosa mulher lhe estendera.

Características Básicas

- Representada frontalmente e sem pescoço;
- Em geral possui o bigode fundido à barba bipartida;
- Sobre a testa escorre uma mexa de cabelo, sinal de pureza e elevação de espírito;
- A boca é, geralmente, representada pequena e os olhos grandes e acentuados.

O Mandilion não possui variantes ou subtipos, mas sim uma composição de cena do sagrado Rosto de Cristo, acrescentando ao Mistério outras representações referentes à sua glória.


Pantocrator

O tipo iconográfico do Pantocrator (gr.: Aquele que tudo rege) é a representaçao bizantina mais frequentemente usada. Ele é, ao mesmo tempo, o Filho de Deus humanado e o Deus que reina, que tudo rege. Ele é pintado ao mesmo tempo severo e manso.





Características Básicas

- Representado sempre entronizado, mesmo quando mostrado a meio busto;
- Apresenta o Evangelho na mão esquerda, em formato de livro ou rolo, às vezes aberto ou fechado;
- Sua mão direita permanece em atitude de bênção;
- Possui, em geral, auréola crucífera com as três letras que revelam o nome sagrado de Deus: Aquele que é.

Subtipo ou variante

Alguns tipos iconográficos, como O Salvador das Almas e O Salvador e Doador da Vida geralmente trazem o livro fechado.

O Rei dos reis e Cristo Sumo Sacerdote é uma das variações para a tipologia que ora apresentamos. Neste ícone Cristo está revestido com paramentos dos bispos, conforme os costumes do Oriente Bizantino. E no livro, em geral, se encontra escrito algo que intensifique o título, então, de um lado se encontra: O meu reino não é deste mundo, se meu reino fosse desse mundo (...) e do lado oposto: Tomai e comei, isto é o meu corpo entregue por vós em remissão dos pecados.

Há uma grande quantidade de variantes dessa tipologia, mas não são indentificadas pela nomenclatura, quando esta vem escrita, ou pelo que se apresenta escrito no livro quando aberto. As inscrições no livro do Pantocrator, conforme postagem anterior (clique aqui!), geralmente são trechos do livro dos Evangelhos referentes ao Cristo Senhor.

Fonte bibliográfica:
DONADEO, Irmã Maria. Ícones de Cristo e dos Santos, São Paulo: Paulinas, 1997;
DUARTE, Adélio Damasceno. Ícones: E o Verbo se fez rosto e armou sua tenda entre nós, Belo Horizonte: FUMARC, 2003;
GHARIB, Georges. Os Ícones de Cristo: História e Culto. São Paulo: Paulus, 1997;
TREVISAN, Armindo. O Rosto de Cristo: A formação do Imaginário e da Arte Cristã. 2a ed. Porto Alegre: AGE, 2003.



A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!