domingo, 31 de outubro de 2010

OS SIMBOLOS NA ICONOGRAFIA


Há duas formas de se perceber os símbolos presentes nos santos ícones, de formas indiretas e diretas.


Os símbolos perceptíveis de forma indiretas são, como já dissemos, aqueles que se encontram na construção do esquema iconográfico, ou seja, as figuras geométricas que são esboçadas desde o projeto, antes de receber a imprimação na madeira e as camadas picturais.


Já os símbolos que são percebidos de forma mais diretas são aqueles que estão diante dos olhos, mas justamente por ser um símbolo, coloca um sentido a mais naquilo que se vê. É a teologia simbólica presente no ícone. De acordo com Mircea Eliade, quando há a manifestação do sagrado num objeto qualquer, este torna-se uma outra coisa e, contudo continua a ser ele mesmo, porque continua a participar do meio cósmico envolvente.


Assim, num ícone do Batismo de Jesus Cristo (Θεοφάνεια το Κυρίου μν ησο Χρηστο), por exemplo, a ÁGUA é percebida diretamente na imagem apresentada, mas não o seu sentido; a água é uma representação simbólica de purificação e morte: submerge o homem velho e emerge das águas o homem novo. A água possui a virtude purificadora. A imersão do batismo é regeneradora, opera um renascimento, no sentido de que há morte e vida.


A água também é vista como “fonte da vida”, associando à fertilidade e opondo-se ao deserto. Deus é visto como “fonte de água viva” e a alma como o cervo sedento em busca da água viva (cf. Sl 42, 2-3).


Um símbolo negativo também está agregado à imagem da água, como por exemplo, o dilúvio.


O ALTAR traz uma simbologia toda em particular. É o lugar onde o Sagrado se condensa com maior intensidade. Sobre o altar se cumpre o sacrifício. Simboliza o centro do mundo, o lugar e o instante em que um ser se torna sagrado. É a mesa do banquete eucarístico, no cristianismo quase sempre celebrado sobre o túmulo de um mártir.


A ÁRVORE é um dos símbolos mais significativos e mais difundidos. Na iconografia e literatura cristã há uma relação simbólica entre a árvore do Paraíso e a cruz de Cristo que “nos devolveu o Paraíso” e que é a “verdadeira Árvore da Vida”.


A árvore da vida está plantada no meio do Paraíso rodeado pelo rio de quatros braços (Gn 2, 9-10). Anuncia a salvação messiânica e a sabedoria de Deus (Ez 47,12; Prov 3,18). A árvore da vida diz respeito somente àqueles que lavaram as suas vestes (Apoc 3, 7-22). A árvore da vida, a primeira aliança anunciada a cruz da segunda aliança. A árvore da vida do Gênesis prefigura a árvore – cruz.


A profundidade do símbolo da árvore é extremamente espiritual. Ela une o mundo subterrâneo, através de suas raízes, ao mundo terreno, através do tronco e das folhagens e, deste, ao mundo espiritual, através da copa.


Um símbolo muito importante na iconografia é a vara do tronco de Jessé, que se lê em Is. 11, 13) e tem inspirados muitos ícones.


O símbolo da Virgem Maria, Mãe de Deus; simboliza a igreja universal, simboliza o Paraíso onde estão os escolhidos; simboliza a árvore genealógica onde culmina com a chegada da Virgem e de Cristo e se une com a cruz, Nova Aliança.


O Arco Íris é o símbolo de ponte entre o céu e a terra. Expressa, sempre e em todo lugar, união, relação e intercambio entre ambos. É símbolo da primeira aliança (sinal de pacto) entre Deus e o homem depois do dilúvio (cf. Gn 9, 12-17); símbolo de ascensão; de conclusão e de princípio da segunda Aliança.


O BÁCULO em sua forma de semicírculo ou círculo aberto significa o poder celeste aberto sobre a terra. Símbolo de autoridade que emana do céu. Cumpre relacioná-lo com o cajado do pastor. O gancho que tem na extremidade permite puxar para o seio do rebanho a ovelha desgarrada.


O CANDELABRO é símbolo da luz espiritual, de semente de vida e salvação. Símbolo da divindade e da luz que ela distribui entre os homens.


A CAVERNA / GRUTA simboliza o lugar subterrâneo ou, até mesmo, o mundo.


O CÍRIO / LÂMPADA / VELA simbolizam, mutuamente, a luz e a iluminação. É um objeto ritual, as igrejas se iluminam com velas. O cristão oferece velas aos ícones como símbolo de oração, de sacrifício, amor e presença. Também é símbolo de santidade e de vida contemplativa.


O CORDEIRO é o símbolo da simplicidade, inocência, obediência, pureza, doçura. É considerado o animal de sacrifício por excelência. É a imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo, imolado em sacrifício por todos nós.


Assim, do derramamento do sangue redentor do Cristo na cruz não deixa de estar relacionado com o sangue salvador do cordeiro sacrificado, com o qual os judeus recobrem os montantes e o dintel da porta, a fim de afastar de suas casas as forças do mal.


O CRÂNIO aparece na iconografia como símbolo de morte, da redenção e da ressurreição. Aparece nas profecias do Antigo Testamento com relação à ressurreição e aparece também nas vestes dos monges eremitas como símbolo da morte para o mundo e sua dedicação a Deus.


Apontando para os quatro pontos cardeais, a CRUZ é, em primeiro lugar, a base de todos os símbolos de orientação, nos diversos níveis de existência do homem.


A iconografia se apoderou da cruz para exprimir o suplício do Messias, mas também a sua presença. Onde está a cruz, aí está o crucificado. Convém sempre distinguir a cruz do Cristo padecente, a cruz patíbulo, da cruz gloriosa, que deve ser vista num sentido escatológico. A cruz gloriosa, cruz da parousia, que deve aparecer antes da segunda vinda do Cristo, é o signo do Filho do Homem, signo do Cristo ressuscitado.


O DESERTO é um lugar povoado de demônios (cf. MT 122, 43). Jesus foi tentado no deserto, e os eremitas, como Santo Antão, sofreram nele o assalto dos demônios. Terra árida, desolada, sem habitantes, o deserto significa para o homem o mundo afastado de Deus. É símbolo do retiro e batalha espiritual.


O DRAGÃO nos aparece essencialmente como um guardião severo ou como símbolo do mal e das tendências demoníacas.


São Jorge ou São Miguel em combate com o dragão, representados em tantos ícones, ilustra a luta perpétua do bem contra o mal. Sob as formas mais variadas, o tema obsessiona todas as culturas e todas as religiões e aparece até no materialismo dialético da luta de classes.


A ESCADA simboliza as mais variadas formas de relações entre o céu e a terra. É símbolo de ascensão gradual e de evolução. A quantidade de degraus corresponde a um número sagrado (sete em geral). É sinal simbólico da escada das virtudes sendo o primeiro degrau a humildade. Os mosteiros como lugares de evolução espiritual são designados “Scala Dei”.


Se nos limitarmos ao método, encontramos a noção de escada (gr.: clímax) nos padres da Igreja, principalmente em São João Clímaco – que lhe deve seu sobrenome, trata-se de uma cuidadosa gradação dos exercícios espirituais, galgando degrau por degrau. “Desse modo se chegará”, diz São Simão, o Novo Teólogo, “a deixar a terra para subir até o céu”. E Santo Isaac, o Sírio: “A escada deste reino está escondida dentro de ti, na tua alma. Lava-te, pois, do pecado, e descobrirás os degraus por onde subir”.


O ESCUDO é o símbolo da arma passiva, defensiva, protetora, embora às vezes possa ser também mortal. Para São Paulo, o escudo é a Fé, contra a qual se romperão todas as armas do Maligno.


A ESPADA é símbolo do estado militar e de sua virtude, a bravura, bem como sua função, o poderio. Quando associada à balança, ela se relaciona mais à justiça; separa o bem do mal, golpeia o culpado.


Às vezes, a espada designa a palavra e a eloquência, pois a língua, assim como a espada, tem dois gumes.


O FOGO, considerado sagrado, purificador e regenerador. No apocalipse, a imagem do divino aparece como rodas de fogo. No Antigo Testamento, Deus aparece na coluna de fogo e na sarça ardente. Símbolo da presença e manifestação de Deus.


A IGREJA é considerada a Esposa de Cristo e a Mãe de Cristãos. E, sob esse aspecto, se lhe pode aplicar todo o simbolismo da mãe.


O INCENSO está ligado à elevação das preces aos céus.


O LÍRIO é o sinônimo de brancura e, por conseguinte, de pureza, inocência, castidade e virgindade. O lírio simboliza também o abandono à vontade de Deus, isto é, à Providência, que cuida das necessidades de seus eleitos (cf. MT 6, 28).


O LIVRO / ROLO indica o próprio Cristo, Palavra de Deus, Verbo Encarnado. Às vezes, toma o simbolismo do Livro da Vida, onde os nomes dos eleitos estão escritos.


A MONTANHA possui um simbolismo de união do céu com a terra e de ascensão espiritual. As grandes hierofanias se dão nas montanhas: Sinai ou Horeb, Sião, Tabor, Garizim, Carmelo, Gólgota, os montes da Tentação, das Bem-aventuranças, da Transfiguração, do Calvário e da Ascensão.


O ÓLEO é o símbolo da purificação por causa do poder de limpeza. A unção com o óleo desempenha um importante papel sacralizante: unge-se coisas e homens.


A PALMA é universalmente considerada como símbolo de vitória, de ascensão, de regeneração e de imortalidade.


Existem vários significados para o símbolo do PEIXE. O principal e mais difundido é quanto à palavra grega Ichtus (= peixe) é uma forma de ideograma, sendo que cada uma das 5 letras gregas vista como inicial de palavras que traduzem por: Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador.


O peixe, visto como alimento é transformado em símbolo do alimento eucarístico ao lado do pão.


O peixe dentro d’água estende o simbolismo, vendo nele uma alusão ao batismo: nascido da água do batismo, o cristão é comparado a um peixinho, à imagem do próprio Cristo.



A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!