A tradição ao referir-se a São Lucas, a quem primeiro pintou a Virgem, indica também que ele tenha pintado outros três ícones que são a base dos três tipos fundamentais sempre repetidos nos ícones: a Odighítria, Eleúsa e a Orante. Veremos cada um por si e seus subtipos ou variantes.
ODIGHÍTRIA
A tipologia da Virgem Odighítria (gr.: Οδηγήτρια; rus.: Одигитрия), que significa literalmente "Aquela que indica (guia, conduz, mostra) o Caminho", mostra, com um gesto indicativo da Virgem apontando na direção de Jesus, o caminho a ser seguido. Segundo uma auto-definição do próprio Jesus, quando disse: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim (Jo 14, 6).
Características básicas:
- Posição ereta e atitude frontal ou ligeiramente voltada para o lado da Virgem;
- O Menino abençoa com a mão direita e, com a esquerda segura o pergaminho;
- O olhar da Mãe está direcionado para o espectador. É pelo olhar que a Odighítria se distingue dos outros tipos;
- A mão da Virgem que indica o Caminho está pousada sobre o peito.
Alguns subtipos ou variantes:
Portaitissa (gr.: Πορταΐτισσα) ou Guardiã da Porta, também conhecida por Porta do Céu. Uma característica única desse ícone é o que parece ser uma cicatriz na bochecha direita ou no queixo da Virgem Maria. Outro famoso ícone que obedece a essas mesmas características é o da Virgem de Czestochowa.
Perpétuo Socorro (gr.: Αμόλυντος, imaculada) ou Virgem da Paixão. A particularidade fica ao encargo do Menino Jesus que agarra firmemente com as duas mãos a mão direita da Virgem, enquanto olha, assustado, os instrumentos de sua futura paixão.
Tricherousa (gr.: Τριχερούσα; serv.: Тројеручица) ou das Três Mãos. Em geral, neste ícone, a Virgem segura o Menino Jesus com a mão esquerda e a aponta com a direita, enquanto uma terceira mão aparece abaixo. Essa terceira mão fora posta posteriormente a pedido de S. João Damasceno ainda durante a luta iconoclasta, como um pedido de restituição de sua mão esquartejada.
Aquela que deu ao mundo o Cristo-Emanuel tornou-se a Guia para todos aqueles que buscam o caminho que conduz a Ele. Dele, eles recebem a Verdade e a Vida.
ELEÚSA
Eleoúsa (gr.: Ἐλεούσα) significa "a terna", "a compassiva"; assim, quando aplicada à Mãe de Deus, passa a ser um dos títulos iconográficos marianos mais conhecidos: Virgem da Ternura. Esse título é dado pelo afeto que une Mãe e Filho e exalta a humanidade de Cristo, em contraste com o tipo Odighítria, em que a ênfase incide na Divindade dele.
Características básicas:
A Virgem leva o Menino em seu braço direito (dexiocratoúsa), aperta-o contra si e, inclinado a cabeça, toca, com sua face, a face do Filho. Este, afetuosamente, acaricia a Mãe com sua mãozinha. Essas são as principais características da tipologia iconográfica da Theotókos Eleúsa.
Alguns subtipos ou variantes:
Glykophilousa (gr.: Γλυκοφιλούσα; rus.: Гликофилуса), que significa "a do beijo doce". Como o nome indica é expressa, principalmente, através dos carinhosos beijos.
A Pelagonitissa (gr.: Πελάγων, região da planície da Grécia) esse título deriva do local geográfico onde é principalmente cultuado. É uma variante da Theotókos Glykophilousa, onde apresenta a Mãe segurando o Menino nos braços, enquanto este se encontra de costas para o espectador, porém seus olhos se direcionam para quem o olha. A Virgem com uma das mãos agarra firmemente (com mão fechada) a perna do Menino.
Galaktotrophousa é outro subtipo que significa Aquela que amamenta ou, como também é conhecida, Madona do Leite. Apresenta um conceito bastante difundido no Ocidente, a Virgem Maria que amamenta o Menino Jesus e nos lembra a passagem bíblica em que uma anônima diz: Feliz o ventre que te trouxe e felizes os seios que te amamentaram (Lc 11,27).
Acolhestes o Verbo em teu seio, mandastes em quem governa todas as coisas, ó Puríssima, alimentaste com leite a quem, com um gesto, alimenta o universo inteiro.
Orante
A tipologia iconográfica da Virgem Orante pode ser representada de três formas principais:
- A primeira aparece sozinha, com as mãos voltadas para o alto e em posição frontal;
- A segunda, se apresenta com o Menino solto sobre o peito materno (em eixo vertical com a Mãe), em posição frontal, frequentemente circunscrito em uma espécie de medalhão de forma circular (clypeus);
- A terceira, aparece voltada para o lado e com uma ou as duas mãos em atitudes de súplica, intercessão. Este tipo de Virgem Orante é encontrado mais comumente nos ícones da Deésis.
Em todas essas representações da Virgem Orante, ela nos aparece como a imagem da Mediadora entre os fiéis e Cristo, como a Intercessora, como o modelo de oração ou como a Suplicante, tal representação é identificada pelas mãos elevadas e com as palmas voltadas para os céus.
Alguns subtipos ou variantes:
Platytera (gr.: Πλατυτέρα) significa A mais vasta, ou Platytera ton ouranon (gr.: Πλατυτέρα τῶν oυρανῶν) A mais vasta que o céu. Também conhecida como Virgem do Sinal. É um ícone do tipo Orante, que carrega o Menino no peito em volta de uma forma circular. O Menino, geralmente, abençoa ora com uma, ora com as duas mãos. Ambos, Mãe e Filho portam uma atitude frontal e seus olhos se voltam para o espectador.
Uma linda variante do mesmo tipo é o ícone da Mãe de Deus do Cálice de Inesgotável Tesouro (rus.: Неупиваемая Чаша), que mostra Maria no altar, onde nenhuma mulher pode servir e oferta o Cristo Eucarístico. A verdade é que Maria está sempre presente na Santa Mesa. Deus não pode tornar-se carne humana, exceto pelo ventre da Mãe de Deus e da sua vontade e cooperação com Deus. Neste ícone o Menino aparece dentro de um cálice de ouro no altar, abençoando com as duas mãos, geralmente representado a meio busto. Enquanto a Virgem aparece coroada, em casos raros apresenta sem a coroa.
A Virgem da Deésis (gr.: δέησις) ou Intercessão, é um subtipo da Virgem Orante que aparece sempre ladeado com Cristo. Este ícone não é um ícone propriamente mariano, pois a Virgem está voltada para seu Filho, colocando-o em primeiro plano.
Existem ainda inúmeros casos em que aparece a tipologia iconográfica da Orante. Nos ícones das Festas Litúrgicas ainda aparecem a Virgem como Orante nos ícones da Ascensão de Cristo, da Crucifixão, da Anunciação, de Pentecostes e outros.
Cristo, enquanto nascido do Pai indescritível, não pode ter imagem. Com efeito, que imagem poderia corresponder à Divindade, cuja representação é absolutamente proibida pela Sagrada Escritura? Todavia, uma vez que Cristo nasceu de uma Mãe descritível, Ele naturalmente tem uma imagem que corresponde à de sua Mãe. E se não pudesse ser representado pela arte, dir-se-ia que nascera apenas do Pai e que não se encarnou.
Fonte bibliográfica:
DONADEO, Irmã Maria. Ícones da Mãe de Deus. São Paulo: Paulinas, 1997;
DUARTE, Adélio Damasceno. Ícones: E o Verbo se fez rosto e armou sua tenda entre nós. Belo Horizonte: FUMARC, 2003;
PARRAVICINI, Ciovanna (org.). A vida de Maria em ícones. São Paulo, Loyola, 2008.
A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!
4 comentários:
A paz do Senhor!!!Não canso de me deleitar com as maravilhas postadas neste blog,parabéns que Deus t abençoe mais e mais, bjs.
Paz de Cristo!
Interessantíssimo esse estudo sobre a iconografia mariana. Já divulguei no twitter (www.twitter.com/veloso_JP). Posso reproduzir no meu blog, o Fonte de Alegria (alegriaesantidade.blogspot.com)?
Deus abençoe!
Parabéns Walter, seu trabalho é uma oferta suave ao Senhor. Deus os abençoe!
Bom dia, achei muito interessante este estudo sobre a iconografia de Nsa. Sra. A variedade de imagens é imensa.
Estou a procura de uma foto ou reprodução da escultura original de Nsa. Senhora de Aboboriz. Era uma imagem em pedra com um metro de altura revelando grande imperfeição, mas de grande antiguidade. Representava a Senhora a dar o seio ao Menino Jesus. Infelizmente foi destruida numa revolta, mas espero que nalgum lugar tenha ficado uma foto, gravura ou réplica. Agradeço qualquer informação.
Lilia
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