Sobre um ícone, o verniz, não serve somente para proteger a pintura da umidade, da ação da luz ou do ar e lesões mecânicas. O verniz do ícone, a olifa, é um óleo que penetra e unifica as diversas demãos de camadas de tintas para dar uma harmonia típica, feita de luz e profundidade e para preservar a vivacidade das cores ao longo dos séculos.
Todavia a olifa também apresenta defeitos: ela seca muito lentamente, absorve a fumaça das velas e, ainda, forma sobre o ícone antigo uma camada escura. Acreditava-se até o início do século passado que os ícones tinham um tom muito escuro, porém a primeira restauração científica fez aparecer, ao contrário, as cores vivas e alegres da Idade Média. Além disso, as camadas densas de olifa são sensíveis às mudanças de temperatura. Mas, se o envernizado for bem feito, esses problemas podem ser evitados.
COMO FAZER
Aquece-se em um recipiente o óleo de linhaça de boa qualidade. Quando a começar a sair fumaça (uma temperatura de 285 graus), se retira do fogo e adicione, mexendo com um bastão, o pó que serve como secante, na seguinte proporção:
- Acetado de Cobalto 3% (3 g/litro);
- Óxido de Chumbo* 7 - 8%.
Após o esfriamento do óleo pode ser filtrado para retirar o excesso de impurezas, em seguida despeje em um frasco limpo, transparente e com tampa. Para clarear essa solução, exponha-o à luz ou ao sol, certificando que o frasco esteja bem fechado. Alguns iconógrafos dissolvem alguns cristais de Damar em terebintina e acrescentam ao óleo. Na Grécia essa olifa é exposta ao sol durante quarenta dias para obter uma melhor qualidade.
A preparação da olifa é bem difícil e nem sempre é bem sucedida. Também é difícil encontrar o pó secante em pouca quantidade.
MODO DE USAR
Após ter analizado cuidadosamente e removida toda poeira do ícone, despeje a olifa sobre a superfície do ícone e espalhe com os dedos ou com um pincel macio. A camada deve ser bastante espessa. O ícone deve permanecer na horizontal. Para proteger de poeiras, cubra com uma tela. Depois de 20 minutos pode-se alisar a olifa com a palma da mão, porque é absorvido de modo irregular. Depois de outros de 20 minutos o excesso de olifa pode ser retirado com as mãos.
Deixe secar sob a tela, por mais ou menos um dia e meio. Pode, ainda, dar mais duas demãos de olifa, sendo que cada uma dessas demãos seja uma camada mais fina. Ao final do trabalho a camada deve estar suave e levemente brilhante, como se estivesse passado cera.
Quando o ícone estiver completamente seco (por vezes, ocorre algumas semanas), pode cobrir com uma demão rápida de goma laca. Assim a poeira não se fixa à superfície.
Depois do envernizamento o ícone está pronto.
Toda descrição acima não transmite a experiência de gerações de iconógrafos; torna-se necessário o contato com um iconógrafo experiente. Além disso, nenhuma outra técnica de pintura (a óleo ou aquarela) oferece a possibilidade de expressão da têmpera a ovo que responde às exigências de uma estética própria do mundo espiritual do ícone.
* é bom lembrar que o Óxido de Chumbo é altamente tóxico e merece um cuidado extremo.
Um comentário:
Nossa! Que interessante essa explicação sobre o Olifa. Gostei muito. Quem diria! Até a linhaça entra aí! Muito bom!Abraços!
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